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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Apenas 10 rúpias


Pr. Jônatas Caldeira
Missionário no Sul da África

O culto ainda não havia começado na pequena casa de dois cômodos, na qual mal cabia a própria família do obreiro da terra no Sul da Ásia. A sala, que à noite se transformava em quarto da família, não possuía sequer uma cadeira, apenas coloridas esteiras indianas que cobriam o piso, já gasto pelo uso.

O pequeno grupo começava a chegar para o culto. Todos os sapatos eram deixados do lado de fora da pequena casa. Ninguém se preocupava com eles, pois sabiam que, ao término, estariam no mesmo lugar. Por mais que a pequena casa estivesse cheia, tudo estava muito bom para os irmãos, pois sabiam o quanto era difícil para o nosso obreiro da terra encontrar um imóvel que abrigasse sua família e, conseqüentemente, os cultos com um pouco de dignidade.

Aquela noite era bem especial para ele e sua família, pois me receberia em sua casa para uma visita e para o culto. Ele avisou a todos, o que garantiu a lotação de sua casa, e até comprou garrafas de água mineral e biscoitos especiais!

As mulheres e crianças amontoavam-se em um canto da sala e sussurravam umas com as outras. Os homens, como sempre, conversavam bastante. Tão logo cheguei, usando minha roupa típica, a tradicional “curta”, todos sussurravam e diziam que parecia um deles. Que bom, pois sempre foi assim.

O culto logo começou. A precária iluminação não permitia que os olhares, cansados e carentes daqueles irmãos, pudessem ser vistos claramente. Curiosos, que passavam na rua, davam uma olhada, com certeza se perguntando qual seria o deus que estava sendo adorado. Infelizmente não pude pregar, o que chamaria muito a atenção dos vizinhos. Afinal, ouvir alguém falando em inglês e sendo traduzido para o hindi seria “entregar o ouro” muito facilmente. Tive “somente” a oportunidade de fazer a oração final, o que, para o contexto, já foi muito bom.

Ao final do culto, um rapaz novo convertido aproximou- se e disse: “Pastor, quero lhe dar uma oferta. Não é muito, “ mas quero que a aceite”. Sorri, dei-lhe um abraço e, meio constrangido, aceitei a preciosa oferta com o coração pesaroso, pois sabia quão pobres são aqueles irmãos.

Depois que saí da casa, tirei a nota do bolso e notei que era de 10 rúpias, ou seja, o equivalente a 50 centavos de real. Foi difícil controlar as lágrimas. Com certeza aquele rapaz não conhecia a história da viúva, pois era muito novo na fé, mas ele ofertou, cheio de alegria, o seu máximo, exatamente como ela. Senti-me minúsculo diante de Deus e apenas agradeci a Ele pelo que vivi.

Ainda tenho a preciosa nota, de “apenas” 10 rúpias, dada com amor. Coloquei-a em um quadro, que ficará entre as minhas, digamos, “coisinhas do coração”. Ao olhar para ela lembrarei que, um dia, coloquei as mãos no arado e ainda tenho muito a fazer...


Jornal de Missões - Novembro e Dezembro - 2008

ANO VI - nº30