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quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Bíblia estimula a chorar

Pr. Júlio Sanches
A Bíblia é o livro que nos ensina a chorar. Estimula o chorar. Consola-nos quando choramos. Diz-nos como evitar o choro. Registra emocionantes histórias de homens e mulheres que souberam chorar. Pois chorar é uma arte. Alguns choram de alegria. Outros de tristeza. De arrependimento. Compaixão. Incapacidade em desvendar o futuro. Compreender a dor da separação. Seus próprios sofrimentos. A dor alheia. A perda irreparável e trágica de um amigo.

Os mistérios divinos provocaram abundantes lágrimas no velho João. Alquebrado, saudoso, sozinho, com terrível visão do futuro. Sem compreender porque o mal parecia triunfar. Restaram-lhe as lágrimas. Entre os muitos enigmas da vida, foi-lhe apresentado um livro selado. Escrito por dentro e por fora. Ninguém conseguia abri-lo. Tampouco olhar para ele. “Eu chorava muito” (Ap 5.4). Todos os sonhos de uma longa vida estavam naquele livro selado. Teria perdido a mocidade? A longa caminhada absorvendo, vivendo e aprendendo a amar como Jesus amou? Era o fim.

Quando os nossos olhos são toldados pelas lágrimas, estas impedem-nos de vislumbrar a esperança de melhores dias. Ouvimos a meiga voz a repetir: “Não chores” (Ap 5.5). Eis a frase ouvida muitas vezes ao longo da jornada com Jesus. O Mestre sentia prazer em repeti-la. Quantas vezes ele a ouvira! Quantas lágrimas foram estancadas! Lágrimas e choro foram transformados em regozijo. Sim, quando a vida veda-nos a esperança do amanhã, Jesus repete: Não chores. Mas Ele chorou! Junto ao sepulcro do amigo querido. Ao receber críticas ferinas. Acusações, sem fundamentos. Todos O tinham por culpado. Afinal, não chegara a tempo de impedir os estragos da morte.

Deus sempre chega e parece estar atrasado quando os azares da vida nos atingem. Sereno como sempre, devolveu a alegria e substituiu a morte pela vida. São lágrimas que tocam e geram o sabor e a doçura do “não chores”. O mesmo Jesus que repetia “não chores”, chorou e estimulou o choro ao carregar a cruz até o calvário. Às mulheres que lamentavam o seu suplício sentenciou: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas, e por vossos filhos” (Lc 23.28).

Chorar por nós mesmos, não sabemos. Chorar pelos filhos, esquecemos. Lembramos quando somos forçados a chorar o filho que partiu. Levado pelas drogas assassinas. Colhido pelos pecados da mocidade. Muitos pais só lembram de chorar ao receber o corpo inerte da esperança que se foi. Choram após as desgraças. Deviam chorar antes de ser por elas alcançados. Jesus continua sugerindo: “Chorai por vossos filhos”. As lágrimas anteriores ao fracasso têm sabores de confiança e dependência. As posteriores são alcalinas, amargas, ferem, corroem e comprovam que não choramos no tempo certo. Ana chorou antes pelo filho que desejava. Foi recompensada. Davi chorou depois e foi-lhe imposta uma dura carga de dissabores, tristezas e luto. Há momento certo para chorar (Ec 3.4). Perdê-lo pode significar tristezas desnecessárias.

As recomendações de Tiago 4.9 e 5.1 são pertinentes. Chorar as nossas misérias espirituais. Chorar a pseudoconfiança. Chorar por reconhecer que todos os males da existência são frutos do pecado. Seguir o exemplo de Neemias, que assentado sobre as lembranças e escombros da história do povo de Deus, chorou (Ne 1.4). Tudo poderia ser diferente, se as lágrimas dos profetas do passado fossem consideradas com seriedade. Mas os ébrios não foram despertos. Não houve choro. Nenhum lamento. Apenas os folguedos das festas pecaminosas (Jl 1.5). Os líderes religiosos não choraram. Não clamaram: “Poupa teu povo, ó Senhor. Ninguém se colocou entre o alpendre e o altar em lágrimas, para implorar misericórdia” (Jl 2.17).

Não é fácil chorar pelos pecados de um povo que se afasta de Deus. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor. Já que o povo não chora, choro eu como fez Jesus ao contemplar Jerusalém. Precisamos chorar os momentos atuais. Chorar a dor da perdição. A incredulidade. O descaso com as coisas santas. A falta de amor às almas perdidas. O envolvimento com o pecado. A ausência da Bíblia nas mensagens. O culto que não cultua. O louvor que não edifica. A indiferença que nos faz insensíveis ao toque do Espírito Santo. Precisamos chorar. Derramar lágrimas de sincero arrependimento. Chorar por não levarmos a sério as recomendações do Senhor. Fazer nossas as palavras do poeta bíblico. “Rios de águas correm dos meus olhos, porque não guardam a tua lei” (Sl 119.136).

Quantas lágrimas seriam evitadas na família, no casamento fracassado, no uso incorreto dos talentos, nos relacionamentos com os irmãos, nas realizações pessoais, se tão-somente chorássemos antes perante o Senhor, a suplicar sabedoria para as nossas decisões. Choramos depois. Precisamos chorar antes. Perdemos a sensibilidade ao desistir da palavra de Deus como bússola para o nosso caminhar diário. Não choramos mais ao ler e ouvir a palavra do Senhor (Ed 10.1). Aliás, a Bíblia é um livro obsoleto para muitos salvos. Não serve mais como direção para as decisões diárias. Os medicamentos de tarja preta substituíram a doçura da Bíblia. A sabedoria humana suplanta a singeleza da Palavra de Deus. As titulações acadêmicas substituíram o estudo e a meditação bíblica. Olhos secos não germinam terreno fértil à ação do Espírito do Senhor. Precisamos chorar. Lamentar a miséria que assola a humanidade nos dias atuais. Derramar lágrimas sinceras no altar do Senhor. Para consegui-lo precisamos voltar à Bíblia.

Ela nos ensina a chorar.



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